História Kung Fu

Resumo sobre a História do Kung Fu

Houve um tempo na história dos homens em que a vida humana valia menos que um punhado de juncos às margens do Hoang-Ho (Rio Amarelo). Nesse tempo, os senhores feudais, donos de muitas terras, podiam decidir sobre a vida dos seus vassalos e estes camponeses, freqüentemente tinham suas próprias residências invadidas por saqueadores sem escrúpulos. Nesses dias, dominar uma arte de guerra era mais do que preocupar-se com a saúde e com a alquimia da longevidade; saber defesa pessoal, era garantia de obter as chances de se permanecer vivo por mais tempo. Eis o cenário ideal para o desenvolvimento daquilo que o mundo denominou: Kung Fu – Wu Shu… as Artes Marciais da Velha China.

Os antigos chineses possuíam uma forma de viver muito identificada com a natureza e com a vida agrícola. Assim, deduziram dos fenômenos universais certas leis e princípios que passaram a fazer parte de suas filosofias de vida e de uma sabedoria que tornara-se marcante nesse povo.

Muitos mestres, observando os movimentos dos animais, desenvolveram exercícios para promover o fortalecimento do corpo. A princípio, os mestres do Kung Fu utilizavam estes exercícios para se manterem em forma para combates corpo-a-corpo, sendo que surgiu, posteriormente, sob a influência do médico Hua To, a intenção da prática para preservação da saúde.

Os primeiros estilos foram criados pelos clãs (por isso atribui-se a expressão “Família Kung Fu” a um professor e seus alunos) e mantidos em segredo através de gerações. Era muito comum que ao herdar um determinado estilo, um membro dessa família acrescentasse alguns movimentos, alterando o estilo matriz de geração para geração. Com o passar do tempo, o mesmo estilo poderia se desmembrar em vários estilos menores e assim sucessivamente por cinco ou seis milhares de anos da civilização chinesa.


O Que é o Kung Fu?

O Kung Fu, traduzido literalmente, significa maestria, eficiência, treinamento, disciplina, esplendor ou tempo de habilidade. O “termo tempo de habilidade” indica uma pessoa que, por um longo período, dedicou-se ao domínio técnico de uma arte ou disciplina até o ponto em que a transforma em sólida experiência de aprimoramento pessoal, expressando-a com máximo de habilidade.

Para designar arte marcial dá-se preferência por WU SHU (WU= guerra e SHU= arte), ou segundo adoção do governo chinês a partir de 1928, KUO SHU (KUO= nacional e SHU = arte). O KUO SHU é utilizado para designar as artes marciais de origem comprovadamente chinesa. O WU SHU designa todas as artes, marciais e militares, conhecidas. Como a expressão CHWAN significa a arte dos punhos (ou boxe chinês), é comum utilizar a expressão CHWAN SHU para identificar um determinado conhecimento marcial ou até mesmo um estilo.

O GUNG FU em dialeto cantonês popularizou o termo KUNG FU no Ocidente onde assim se denomina todas as artes marciais que, supostamente, vieram da China. Entretanto, por Kung Fu Tradicional, entende-se aquela modalidade de luta onde se almeja mais os fundamentos da arte marcial do que do esporte de luta. Hodiernamente, entidades de administração desportiva, nacionais e internacionais, regulamentam as competições do Kung Fu – Esporte de Luta, mas as Associações Tradicionais de Kung Fu não estão, necessariamente, filiadas ou vinculadas a tais entidades.


Referencial Cronológico

Certa feita um Imperador Chinês chamado Tshin Chi Hoang Ti (o Imperador Amarelo) mandou destruir quase tudo o que havia em seu império. Muitos monumentos e inscrições deixaram de existir e novas construções se fizeram porque Hoang Ti queria ser o primeiro entre os grandes imperadores chineses. Foi no ano 2.674 A.C. que o imperador Tshin Chi Hoang Ti enfrentou e venceu, um exército inimigo, numericamente superior ao seu. Tal vitória foi atribuída ao domínio das estratégias guerreiras do WU SHU. Embora os registros antigos apontam Hoang Ti como o primeiro a usar o WU SHU durante uma batalha, muitos mestres do KUNG FU afirmaram que alguns dos exercícios já eram praticados algumas centenas de anos antes. No ano de 2.206 A.C., no reinado de Ti Ki, construíram carros de guerra com capacidade para vinte e cinco homens, feitos de bambu, sendo estes muitos rápidos e leves. Podiam ser levados por apenas um cavalo ou por seis homens. O imperador Kao Tsong aumentou o número de carros de combate, quando sob influência do seu neto Li Kang, percebeu que a infantaria não podia fazer resistência diante da cavalaria e esta tornava-se vulnerável diante dos carros de combate.


Os Diferentes Estilos de Kung Fu

As diferentes escolas de Kung Fu recebem na china uma divisão (pedagógica) que as denominam como sendo escolas do sul. Essa denominação surgiu devido fator geográfico que influenciou no desenvolvimento dos estilos básicos. Devido a grande extensão do Continente Chinês, suas regiões do norte e do sul caracterizavam-se por marcantes diferenças no que diz respeito ao solo e aos acidentes geográficos. Daí surgiu o conceito: “Na Kuen Pat Tui”, ou seja, “Punhos do Sul e Pernas do Norte”. Os povos do norte habitavam nas montanhas e portanto tinham pernas fortes e se especializaram no desenvolvimento de estilos que fossem favoráveis ao uso dessa predisposição natural. Os povos do sul habitavam os pântanos, nas várzeas onde semeavam o arroz e nas barca atracadas às margens dos rios. Por força dessas circunstâncias precisavam manter equilíbrio em condições precárias e se tornaram exímios cultores dos estilos em que predominava o uso dos braços.

Além das influências geográficas, o Kung Fu também se desenvolveu sob as características das religiões e filosofias mais marcantes na cultura chinesa.

No início da Era Cristã as Escolas Budistas originárias da Índia tiveram elevações no padrão social da civilização chinesa, passando a ter certas influências políticas e seus líderes sendo agraciados pelo Imperador com cargos públicos. Esses fatores perturbaram os praticantes da filosofia taoísta (Deo Lao Tse), que se viram na obrigatoriedade de se transformar sua filosofia em religião em busca do prestígio que tinham perdido. Para diferenciar as Escolas de Kung Fu com influências Taoísta das outras influenciadas pelo Budismo, foram criados os termos: “Nei Chia” e “Wai Chia”.

A Nei Chia (Escola Interna, Taoísta) caracterizava-se pela respiração profunda e pelo estudo das energias internas. Por exemplo: o estilo Tai Chi Chwan.

A Wai Chia (Escola Externa, Budista) caracterizava-se pelos movimentos rápidos agressivos e pela busca da praticidade em situações de combate. Por exemplo: o estilo Wing Chun Chwan.


A Educação Física Marcial

Por volta dos anos 141 a 203 viveu na China um médico chamado Hua To que se formou famoso por ser o primeiro cirurgião a usar anestésico para realizar suas operações. Hua To nasceu no Distrito de Po, na província de Anewei e foi a primeira a utilizar o “mafeisan” (erva medicinal) como anestésico há séculos antes dos países ocidentais. Inseridos em uma concepção higienista, alguns autores creditam a Hua To o título de “Pai da Educação Física” por ter criado o “Wu Chin Si” ou “Jogo dos Cinco Animais” que consistia em uma série de exercícios que buscavam o equilíbrio e a harmonia psicofisiológica do homem com o objetivo de agir como preventivo contra as enfermidades e constituir-se em método de exercício cotidiano.

Hua To observando os animais, acreditava que seu vigor estava intimamente relacionado com a muita movimentação que fortalecia os músculos e ativava a circulação. Assim criou algumas séries de movimentos que imitam o comportamento dos animais (tigre, veado, urso, cegonha e macaco), dando grande importância a prática respiratória e ainda poderia usar tais movimentos como defesa pessoal. Hua To praticava e ensinava o “Wu Chin Si” aos doentes e debilitados do seu tempo e com isso promovia saúde, resistência a doenças e longevidade. As rotinas de Hua To acabaram por se tornar um dos estilos de luta interna e possivelmente fundamentou muitos outros estilos de Kung Fu que seriam matrizes dos estilos atuais. As séries (rotinas) de Hua To eram como um “Kati” ou “forma” dotadas de movimento amplos semelhantes aos estilos de Kung Fu ainda existentes em nossos dias. Esse tipo de movimentação era denominado nossos dias. Esse tipo de movimentação era denominado “Chun Chwan” eram suaves, flexíveis e amplos, ao passo que respiração era relaxada e natural, sendo o inverso dos estilos externos onde a respiração era forçada pela musculatura abdominal.


A Origem dos Templos

Durante a Dinastia Wei (398 a 534) houve uma grande conversão do povo chinês ao Budismo recém chegado da Índia e quando o monge Batuo veio á China para pregar sua religião por volta do ano 495 d.C. o Imperador Shiao Wen converteu-se e mandou construir o primeiro Templo Shaolin. Para a construção do templo foi escolhida uma localização privilegiada na face norte da montanha Soong Shan. Ao redor da construção do templo os monges plantaram um pequeno bosque com árvores frutíferas e outras plantas. Esse Monastério Shaolin a oitenta quilômetros a sudoeste de Zhengzhou foi construído em uma das cinco montanhas sagradas e próximo à Cordilheira Shao Shi na província de Honan e cujos feitos relativos ao desenvolvimento e a preservação do Kung Fu o tomaram lendário.

Logo após as escadarias de sua entrada principal ainda existe uma placa onde se pode ler em chinês Arcaico ‘SHAO-LIN-CHI” que podem ser traduzidos por “Templo da Jovem Floresta” ou “Monastério do Pequeno Bosque”. A medida em que a ordem monástica de Shaolin se desenvolveu, foram criados outros templos.

Depois do templo erigido em Honan, o mais famoso templo Shaolin foi construído na província de Fukien por um monge chamado Ta Shin Sheng. Acredita-se que embora tenha sido em Honan que se criou o estilo Shaolin Kung Fu, foi e Fukien que este desenvolveu até atingir os elevadíssimos padrões técnicos que lhe deram tanta fama. Não obstante o relato supra, as técnicas marciais e o Kung Fu já estavam presentes na cultura chinesa centenas de anos antes do estabelecimento da Comunidade Budista de Shaolin. Pesquisa históricas afirmam que o templo de Honan possui grande mérito de ter preservado muitos dos conhecimentos marciais originários da China Antiga.

Porém os pesquisadores que fazem afirmações observam que o templo de Honan se dava mais importância às práticas da filosofia e da meditação (CH’AN) enquanto que em Fukien, no templo do sul, os monges davam grande importância às técnicas marciais e estavam constantemente envolvidos nas lutas e nas rebeliões do povo chinês.

A Ginástica (expressão de origem grega que significa culto ao corpo nu) não possui correspondente no idioma chinês, pois na China ninguém faz exercício apenas para fortalecer os músculos. O Kung Fu é a expressão mais apropriada e designa um sistema completo de desenvolvimento do corpo, do espírito e da mente para a formação de caráter e auto proteção inseridos em um estilo próprio e uma filosofia de vida e normas éticas de conduta.

Os Guerreiros de Kung Fu eram especialistas nas artes marciais, mas também donos de refinada cultura, homens de letras, poetas, músicos, exímios cultores das artes culinárias e das técnicas agrícolas. Quando os Manchus invadiram a China, muitos oficiais do exército chinês foram mortos e outros refugiaram-se nos templos. Os templos eram considerados territórios apolíticos e o Templo Shaolin, o principal deles, possuía terras cultiváveis para sua subsistência além de paredes com diversos metros de espessura. Isso permitiu que o mesmo sobrevivesse a inúmeros cercos e ataques dos adversários. Um monge de categoria ainda inferior, chamado Ma Ning Yee recebeu uma grande soma em dinheiro e a oferta de um cargo político, para que junto com três oficiais do governo Manchu, Chan Man Yu, Cheung Ching Chow e Wong Chung May, trair seus superiores envenenando a água do templo e ateando fogo aos edifícios no décimo segundo ano do reinado de Yung Cheng (1.733 D.C.). Em seguida Ma Ning Yee abriu as portas do templo permitindo a entrada dos soldados manchus e estes matando todos que encontravam, destruíram o templo. Nesse dia conseguiram escapar cinco mestres: Cheen Sin, Fung To Tak, Mui, Hin, Ng’Mui, Pak Mey; e quinze discípulos dos quais seis se perpetuaram seus nomes devido à fama nas habilidades marciais: Hung Hee Kung, Luk Au Choy, Fong Sai Yuk, Tse Ah Fook, Fong Weng Chu e Tsung Chin Kun. Estes cinco mestres e quinze discípulos infiltraram-se na sociedade chinesa e usando seus conhecimentos sobre a Medicina ( Acupuntura e Do In) aliados a sua conscientização política, espírito de educador e maestria nas habilidades marciais montaram exércitos e sociedades secretas com a colaboração dos cidadãos chineses, muitos dos quais nunca haviam estado no Templo praticado a Shaolin Tao Chwan (Caminho dos Punhos da Jovem Floresta); haviam, durante toda vida, praticado o Wu Shu Chwan (Arte dos Punhos da Guerra).